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quinta-feira, maio 20, 2004

Cobertura dos abusos do exército dos E.U.A. em prisões no Iraque 

Um aspecto da cobertura dos abusos do exército dos E.U.A. em prisões no Iraque quer por órgãos da comunicação social nacional como internacional têm -me desagradado particularmente. Pessoalmente, agrada-me que sejam divulgadas fotos dos abusos, o que contribui para a sua diminuição. O que não me agrada é a divulgação de fotos onde se possa identificar os prisioneiros alvos de abusos. Isto porque isso poderá contribuir para um ainda maior sofrimento das referidas vítimas. Em minha opinião, as faces dos prisioneiros alvo de abusos deveria ser ocultada.

Ivo Dias de Sousa

segunda-feira, maio 10, 2004

DIscussão No Mundo  

Discussão do post "A Nossa Pátria Não é a Língua Portuguesa"

Apenas a imprensa teima em chamar steward aos homens e mulheres que a organização e as forças de segurança chamam correctamente de Assistentes de Campo. Na verdade um steward é um assistente de campo. Sei que nas esquadras de polícia não se utiliza o termo hooligan mas sim desordeiro. Desordeiro é a tradução à letra de hooligan, que por sua vez é uma palavra inglesa mais antiga do que o fenómeno do futebol.

A imprensa portuguesa é cada vez mais irresponsável na preservação da nossa língua na medida em que palavras como estas são usadas indiscriminadamente sem dar a conhecer os seus verdadeiros significados aos leitores, ouvintes etc. É uma classe constituída maioritariamente por aburguesados pseudo-intelectuais com aspirações a controladores de opinião pública. Por outro lado as organizações de segurança pública que são tantas vezes acusadas de iletradas acabam por dar o exemplo neste pequeno detalhe da nossa língua.

Deixe-me que me indigne com algumas das suas palavras. Torcer pela selecção do país onde se nasceu e sonhar com a vitória, é ser-se nacionalista? Não me parece, porque se assim fosse, para alem de estádios, também enchiam as urnas de voto nacionalista, e felizmente não é o que acontece. Conhece realmente alguém que tenha decorado o hino a propósito do Euro 2004, ou foi apenas uma forma de escárnio, tipicamente portuguesa, que encontrou para dizer mal do seu país?

M.M.

Afixado por Marisa M. em maio 3, 2004 03:09 PM
Foi uma forma de escárnio, é verdade. Não gosto do páís onde nasci. Não me identifico com a cultura portuguesa. E a selecção nacional de futebol nada me diz. Não consigo perceber essa ansiedade por uma vitória nacional no futebol.
Devia contribuir para que as coisas mudassem, em vez de criticar? Não, já desisti. Porque é arrogante pensar que estou certo e todos (ou quase todos) estão errados. Portugal e os portugueses conseguem viver com aquilo que são. Quem sou eu para dizer que estão errados. Quando a virilidade e a inteligência se mede pelo número de uísques que se bebem antes de conduzir e pela capcidade de fugir aos impostos, quem sou eu para dizer que tudo está errado. Por isso, esta semana, tenterei iniciar o processo que poderá conduzir para fora do país. Já estou cansado de arriscar a vida, três vezes por semana, na auto-estrada do sul.

Afixado por CMF em maio 3, 2004 03:25 PM
Ihihih CMF no seu melhor. Já não é a primeira vez que apanho por aqui desabafos tão sinceros. Volta e meia tb me saem umas coisas dessas, mas não me posso entregar a essa prática com frequência. Provoca-me arritmias. Não é justo dizer que o adepto português não apoia genuinamente o seu tão querido futebol. Estes novos estádios (sinal dos tempos de crise que por cá se vivem), permitem um eco magnífico das claques que tão vigorosamente gritam o seu harmonioso "Pro C*lho" ou o seu não menos conhecido "Filhos da P*". Isto é que vai ser instruir os turistas. Que melhor se pode aprender num país estrangeiro do que as mais puras expressões do calão (extra)ordinário?
Marisa. Adorei o seu "aburguesados pseudo-intelectuais com aspirações a controladores de opinião pública". No que toca ao "Por outro lado as organizações de segurança pública que são tantas vezes acusadas de iletradas acabam por dar o exemplo neste pequeno detalhe da nossa língua", infelizmente não no que lhes compete. É da forma que agiram no último fim de semana em Alvalade que vão controlar uma multidão de "desordeiros" em fúria a invadir o relvado? Ou talvez o extremo oposto, parece que já estou a ver um batalhão do corpo de intervenção a cavalgar pela Rua Augusta, a sovar indiscriminadamente tudo o que se mexa. Enquanto isso ultimam-se os preparativos para o grande momento. Um buracão enorme no coração da capital, uma chuva de greves que promete espectáculo e processos judiciais para alguns dos responsáveis máximos desse bendito futebol. Mas construiram-se estádios em tempo record e paga-se uma pequena fortuna ao seleccionador campeão do mundo, que continua a dar provas da sua competência. A prova que até somos um povo pacífico, embora atolados em idiotices de todos os géneros, cultivamos avidamente o culto à Bola e ao Record (ainda nos chamam incultos!), afluimos ao estádio em solidariedade aos pobres empresarios do futebol e a essas tão simbolicas e heroicas figuras, os nossos queridissimos jogadores da selecção. Força Portugal!

Afixado por BMA em maio 4, 2004 01:16 PM
Eu cá vou torcer pela Espanha...

Afixado por PML em maio 4, 2004 03:29 PM
Bem observado pela Marisa. Concordo com a sua argumentação, apenas com a excepção daquele afloramento em que revela receio de ser apodada de nacionalista ou patriota. Já vai sendo tempo de os portugueses perderem este atrofiante complexo de inferioridade ou de culpa que os leva quase a pedir desculpa de serem o que são e de terem tido um papel relevante na História Mundial, pelo menos durante o século xv e quase todo o século xvi. Foi pouco ? Foi o suficiente para ganhar o direito a nela figurar com algum destaque. Não chega para nos satisfazer hoje em dia ? Façamos nós mais ou o que falta para recuperarmos a auto-estima perdida ! Salve e Bem- Vindos à Pequena Casa Lusitana.

Afixado por António Viriato em maio 5, 2004 12:16 AM
António, será importante esse passado? Para mim não é. Não olho para as nacionalidades dos autores de feitos do passado. Pouco me interessa se são portugueses, espanhóis ou ingleses. Como não me interesso pela bandeiras das novas naus, aquelas que atravessam distâncias ainda maiores para chegar à Lua ou a Marte. São feitos e conquistas da Humanidade. Exacerbar obras nacionais é um exemplo de macro-corporativismo (em qualquer nacionalidade). Entende-se a razão: os portugueses (ou espanhóis, ou ingleses) são um grupo com interesses comuns. Mas é necessário ultrapassar essa pequenez (ao contrário do António, julgo que enaltecer os feitos nacionais é um sintoma de complexo de inferioridade).
Tento imaginar esse comportamento nos pequenos grupos dos quais faço parte. E nestas páginas começaria a fazer o elogio desmesurado de Von Neuman, Holland e Langton, enaltecendo as virtudes destes pioneiros dos sistemas evolutivos e da vida artificial. Ou então falaria reverentemente de Walker Evans, Robert Frank e Paulo Nozolino, os meus “pais fotográficos”, como alguns portugueses falam de Vasco da Gama ou Fernão de Magalhães, os seus “pais navegadores”. E diria, “uni-vos, estudiosos das teorias da complexidade, em torno destas nobres referências, para fazer desta a ciência do século XXI”.
As viagens das caravelas portuguesas nem me entusiasmam muito como conquista da Humanidade. Foi uma aventura sedenta de lucro, e cujos resultados a longo prazo (umas páginas nos livros de História) revelam um comportamento muito português que já vem de longe: esse defeito tão mediterrânico, o mercantilista em detrimento do empreendedor.
Como “conquistador”, prefiro Newton a Vasco da Gama. E esse, sentou-se debaixo duma árvore, enquanto Vasco da Gama enfrentou mares violentos. O valor judaico-cristão do esforço, do trabalho como virtude em si, independentemente do resultado, também pouco me diz.

Regressemos ao presente. E neste presente, o que somos nós, portugueses? Entre outras coisas, e principalmente, guardiões da língua portuguesa. Não podemos esperar que algum estudioso de uma distante universidade se lembre de proteger o português, e guardá-lo para as gerações vindouras. Ou os portugueses assumem essa tarefa, ou a língua desaparece. Ou os portugueses a enriquecem com novas palavras, novas expressões, conservando, sempre que for possível, aquelas que já foram conquistadas e descobertas (estas sim, umas honradas Descobertas), ou a língua definhará até à morte. Não vou chorar essa hipotética extinção: tudo tem um fim e até os dinossauros desapareceram. Mas enquanto for vivo tudo farei para a manter porque, infelizmente, não sou nenhum Nabokov, que conseguiu mudar de língua sem perder o brilhantismo (e, para não o perder, é necessário possuí-lo, coisa com a qual não nasci). Mas os meus concidadãos parecem mais preocupados com a lista de convocados do seleccionador nacional.


Afixado por CMF em maio 5, 2004 01:39 AM
A questão da auto-estima afloraria aqui temáticas complexas sobre o que é, no fundo, a identidade nacional. Quanto a mim, muito resumidamente, penso que existe um direito justificado na conservação de certos valores que são típicos da nossa nacionalidade, sem entrar, no entanto, em nacionalismos. Se no passado não fez sentido fazê-lo, não é certamente agora que o fará. A nossa língua, e por arrasto, a obra literária, são talvez, mais do que os acontecimentos de destaque histórico que são os Descobrimentos, os nossos grandes motivos de orgulho, o principal manifesto do nosso reduzido património. Continuamos, por força da nossa parca formação cultural, a não saber valorizar aquilo que de melhor temos, sem que antes alguém o faça por nós. São exemplos muito simples deste fenómeno o culto a Fernando Pessoa que existe no Brasil (muito mais forte do que o que existe por cá) e a importância atribuída a Saramago, desenterrado o valor da sua vasta obra literária pela academia sueca. Não só no campo literário, como em todos os outros, o que se observa na generalidade, é que somos em território nacional fracos produtores de valores porque em termos materiais não temos expressão. O Figo nunca seria o Figo se não numa das maiores economias futebolísticas, o Damásio nunca seria o Damásio se enterrado nas nossas Universidades. Quando fala dos valores do trabalho pelo trabalho, repare que foram as economias imbuidas de espírito pragmático que singraram, foram elas que conseguiram promover os seus intelectuais. Este último valor não nos falta, a prova disso está na capacidade demonstrada por portugueses que, no estrangeiro ou em Portugal, quando munidos de condições, conseguem realizar feitos de qualidade. O "orgulho nacional" não pode portanto ser eternamente construído dos "heróicos" feitos do passado nem a língua pode sobreviver se os feitos do país não a acompanharem. Costumo pensar que o nosso país é em tudo imaturo e só há muito pouco tempo conseguiu implementar as condições que permitem a proliferação de múltiplos grupos de interesses, elites, lobbies (o que quiserem), diversidade que assegura o desenvolvimento nos moldes em que tanto o "invejamos" a algumas outras nações. Para que esse esforço seja contínuo e bem sucedido, é urgente uma reformulação de certos valores que minam as nossas probabilidades de sucesso. Menos tacanhez e mesquinhez, menos individualismo, menos prosápia, mais empreendimento e solidariedade (especialmente institucional, mas as coisas constroem-se de raíz), mais coragem política e menos medo de errar. Se não o fizermos não chegamos onde é preciso.

Afixado por BMA em maio 5, 2004 12:23 PM
Acicatado pela contestação do nosso amigo Carlos, vou procurar aclarar aqui algumas ideias, sobre a importância do nosso passado histórico, para a comunidade individualizada que, nós outros, Portugueses, somos, desde há quase novecentos anos.

Qualquer que seja o interesse ou a curiosidade que a este assunto dediquemos, no caso presente, trata-se do nosso vero Património Histórico, algo que herdámos, comum legado recebido das gerações que nos precederam, no local em que nascemos ou nos foi dado viver.

Da mesma forma que atribuimos importância ao que a nossa família nos transmitiu : a educação, a instrução, o conforto, os bens, muitos ou poucos, as tradições, etc., assim deve acontecer com o que nos legou uma outra espécie de família mais alargada – a Nação – a que nos ligam laços de afecto cimentados na partilha de ideias e sentimentos específicos, cultivados ao longo de séculos de convivência comum. A isto se chamava, in illo tempore, o fundamento das Nações.

Por isso nos aproximamos, nos juntamos e celebramos acontecimentos particulares, a que os demais povos permanecerão indiferentes, por nada lhes dizerem, nem no plano cultural, nem no sentimental ou afectivo, uma vez que lhes foram alheios, neles não participaram ou até eventualmente a eles se opuseram.

O mesmo sucederá connosco em relação aos deles. Não há aqui nada de xenofóbico, mas tão só a comprovação de uma realidade que fomos conhecendo, por termos feito uma aprendizagem da cidadania no seio de uma cultura particular, no nosso caso, a portuguesa.

Este valioso património, o português, em particular, contém trechos brilhantes, pelos feitos que a história registou, com figuras que se destacaram na época, em que também havia competição entre as nações e entre os indivíduos, como todos reconhecerão, apenas assumindo uma feição diversa da do presente.

Certamente que não foi por acaso que os Portugueses se distinguiram nesse tempo, na epopeia marítima, nos séculos xv e xvi, sobretudo, e não os Franceses, Ingleses ou Holandeses, que não estariam distraídos, mas tão-só não lograram adiantar-se no empreendimento marítimo, o qual exigia igualmente algum suporte científico, de que nós, portugueses, não estaríamos, ao tempo, desprovidos.

É sabido que na ciência náutica da época Portugal se encontrava a par dos maiores avanços técnicos, quer na cosmografia, quer na cartografia, quer ainda na construção naval, dotados de uma perícia de manobra das embarcações significativa, pelas frequentes viagens praticadas, primeiro ao longo da costa africana e depois, mais ao largo, no grande mar oceano, que nos levaria à Índia, ao Brasil, à América do Norte e ao extremo Oriente.

Tudo isto é sabido, mas deve ser valorizado, por constituir um activo precioso na história de qualquer nação. Só nesse sentido deve ser usado, i.e., como elemento catalisador de novas aventuras, no domínio da Ciência, das Letras ou das Artes, consoante a nossa capacidade o permitir.

Não há nenhuma incompatibilidade de base, nem nenhuma incapacidade inata dos portugueses para algum destes campos. Tudo depende da forma como nos soubermos preparar, organizar e aplicar, para empreendermos as tarefas do futuro, as que nos podem fazer recobrar a auto-estima abalada por tantos anos de criticismo exacerbado.

Bem sei que hoje os ideais colectivos andam subalternizados aos individuais, mas mesmo no âmbito pessoal é possível contribuir para qualquer coisa de maior. É preciso ver mais alto e mais longe, para além do nosso quintal.

As esferas de actividade não devem ser vistas em contraponto umas com as outras e uma Nação não deve queixar-se dos heróis que teve ou não teve nas áreas que numa dada época lhe parecem mais importantes. Deve, sim, aproveitar os que tem, procurar emulá-los, sempre que possível, nos campos que se lhe afigurem mais apetecíveis, atractivos ou de que se ache mais necessitada.

Não faz sentido contrapor Newton a Vasco da Gama. Cada um fez o fez, de acordo com a formação que recebeu, a inteligência que tinha e os ideais em que inseriu a sua acção. Os ingleses tem todo o direito a orgulhar-se do seu grande génio da Ciência, como os portugueses se devem orgulhar igualmente dos seus heróis, quer tenham sido navegadores, quer tenham atingido notoriedade noutras áreas, com Pedro Nunes, por exemplo, no seu tempo, tão distinto na Ciência como os seus pares europeus.

Também não devemos falar do país, como se de uma entidade alheia se tratasse. É, antes, qualquer coisa que nos diz profundo respeito, mesmo se não nos sentimos bem representados na sua condução presente. Está ao nosso alcance fazê-lo melhor, lutar para que ele se transforme no sentido que nos pareça mais conveniente, proveitoso, para o fazer progredir.

Afinal para que queremos um sistema democrático, se nos desinteressamos de o aperfeiçoar, se apenas o criticamos e nada queremos fazer para o melhorar ?

Se todos pensarem que a solução é emigrar, isso equivale a uma deserção colectiva. Desistimos de lutar, baixamos os braços e damo-nos por vencidos, ainda mesmo sem termos lutado. Estou em oposição a esta atitude que reputo demissionista. Até os grandes críticos portugueses do século xix, da chamada geração de 70, lutaram, cada um à sua maneira, para arrancar Portugal ao seu atraso. Um deles, o Oliveira Martins, chegou mesmo a desempenhar funções de Ministro no Governo, para contribuir para o progresso do seu país, abandonando por momentos a cómoda tarefa de crítico dos desacertos governativos.

O próprio Eça, porventura o mais acerbo, com maior potencial destrutivo nas suas investidas críticas, pela finura de estilo, acutilância e robustez da sua argumentação, ampliada pela vasta simpatia pública conquistada, parece ter-se apercebido dos efeitos nocivos dessa crítica demolidora, vindo no final da vida a adoptar uma atitude mais compreensiva da realidade que, com essa actividade, pretendia alterar.

Porque é preciso sempre alguma contenção na crítica, ter a noção de que se pode estar a cometer excessos e a prejudicar a própria entidade que se deseja melhorar. Depois de uma sova desmesurada, o que foi objecto dela pode ficar tão desconjuntado que já não admita reabilitação.

De muita desta crítica ainda não recuperámos, creio eu, tal o seu efeito devastador no corpo da Nação. Para agravar as coisas, o longo período da Ditadura habituou muita gente a exercer a crítica quase de uma forma automática e a coberto de uma posição, à partida, assistida de razão, por falta de legitimidade formal do regime contra o qual ela se dirigia.

Mas se Salazar era Ditador, por não acreditar no sistema democrático, representativo, parlamentar e preferir soluções autoritárias, de déspota iluminado ; se abusava até da autoridade que o regime, por si engendrado, lhe conferia e, com isso, despertou, nos portugueses que se lhe opunham, o desejo de implantar um regime democrático, de liberdades individuais garantidas na lei, não se segue daqui que tudo o resto que ele advogava deva ser rejeitado.

A sua honestidade moral e o seu proverbial nacionalismo ou patriotismo não deveriam ter sido desprezados, como o foram, porque são valores em si mesmos, independentemente de quem os apregoa ou pratica. Todos os demais povos têm este sentimento entranhado na sua formação e não vejo por que razão os portugueses o devam rechaçar, se isso tem um efeito agregador na comunidade, capaz de lhe comunicar um ânimo propulsivo nas múltiplas actividades que houver de empreender.

Também não há motivo para ter medo dos termos. Ser nacionalista, não é ser fascista, nem é pretender esmagar ou combater as outras nações, mas tão-só amar a sua Nação e querer afirmá-la, pelos seus valores de civilização e de cultura, no conjunto alargado das outras nações, não para as esmagar, mas para delas merecer o seu respeito e consideração. Em que é que isto conflitua com os ideais democráticos de cada um ?

Sem sentido de comunidade, só existem êxitos individuais, desgarrados no seu simbolismo, pouco contribuindo para a elevação desse corpo mais vasto a que sempre pertencemos.

Quanto à defesa da Língua, é mais um dos aspectos em que se traduz o respeito pelo património herdado. A Língua Pátria é muito mais que um mero instrumento de comunicação entre indivíduos. Nela estão contidos profusos elementos da nossa aventura colectiva, além de ser ela própria um objecto de actividade artística, como a Pintura, a Escultura, a Arquitectura, a Matemática, etc., podendo ser enobrecida ou degradada pelo bom ou mau uso que dela fazemos.

Peço desculpa de me ter alongado e porventura repetido nalguns pontos aqui focados, num tema que, já em tempos, motivou outra minha intervenção. Não pretendo converter ninguém aos meus pontos de vista, que, naturalmente, são discutíveis, mas apenas contribuir para o esclarecimento, espero, de temas que, a meu ver, andam mal abordados ou abordados de uma forma unilateral, desequilibrada, nos diversos meios de comunicação.

Acredito que os indivíduos podem melhorar a sua sorte, de uma forma individual e colectiva, sendo que esta última completa e dá sentido à primeira e, para isso, é importante não desprezar o património físico e cultural das comunidades em que nascemos ou escolhemos viver. Toda a argumentação aqui desenvolvida visou explanar este mesmo sentido. Tê-lo-ei conseguido ?


Afixado por António Viriaro em maio 6, 2004 10:17 PM
Conseguiu António, e pouco tenho a contrariá-lo naquilo que escreve. As suas palavras, num sentido geral, não me chocam nem provocam protestos.
No entanto, vou aqui abordar algumas questões. Quando o António fala da família e do paralelo com as nações, está tocar num aspecto essencial, não só desta troca de ideias, como também de outra, mais abrangente, e que se costuma designar como "os valores". O conceito de família, com a evolução da civilização humana, diversificou-se, evoluiu e adaptou-se à evolução e mudança do meio envolvente. Hoje, a família portuguesa (ou "as famílias portuguesas", porque o conceito não é igual em todo o país), não é certamente igual ao conceito de família dos primeiros povos que habitaram a península ibérica. E, em todo o mundo, existem inúmeros paradigmas familiares: endogâmico e exogâmico, nuclear e comunitário, etc. O conceito de família não é imutável se o analisarmos geograficamente e temporalmente. O mesmo se passa com o conceito de nação. Se, em tempos, a divisão mais acentuada das nações trouxe alguma vantagem competitiva às civilizações, hoje, é provável que o conceito possa evoluir para uma menor divisão entre povos. Se em tempos a união forte entre indivíduos com os mesmo interesses comuns e heranças culturais favorecia a evolução dessa sociedade, hoje, a pressão selectiva pode ter diminuído, e os interesses comuns e consequente união podem ter sido alargados (por exemplo, identidade ibérica ou europeia, ou mediterrânica, ou mesmo euro-asiática) (eu sei que os meus argumentos começam a denunciar um pensamento evolucionista, mas essa é, com todos os seus defeitos, uma das mais poderosas ideias da história da Humanidade). Por isso pergunto: fará sentido uma união em torno de símbolos e feitos nacionais? Ou será que essa união já se alargou, e muitos europeus começam agora a olhar para os símbolos e feitos europeus, sem distinção de bandeira? Em breve, espero escrever um texto mais detalhado e ponderado sobre esta inevitável caducidade e transitoriedade dos valores (todos).

Pessoalmente, não consigo exaltar-me mais com uma proeza de um português do que com um feito de um estrangeiro. Lamento, mas fico totalmente indiferente à nacionalidade de um cientista, escritor ou pintor (interessa-me a sua nacionalidade, ou origem étnica, para compreender a sua obra, naturalmente, mas nunca como factor de distinção ou exaltação). Quando falei da minha preferência por Newton, não estava preocupado a sua nacionalidade. Newton está acima de qualquer nação e eu nunca aceitaria que qualquer inglês reclamasse como exclusivamente sua a herança desse génio. Falei de Newton porque me fascina o que aquela mente conseguiu construir, e a influência que o seu trabalho teve, tem e terá por muito tempo. E não rebaixei Vasco da Gama por ser português. Apenas não me entusiasmam tanto os feitos marítimos dos navegadores (se eu não gostar de fado porque deveria enaltecer Amália Rodrigues?). São apenas preferências. Saramago é português, considero-o um génio, deleito-me com os seus livros. Coetzee é sul-africano, escreve na língua inglesa, e não apreciei o seu famoso “Desgraça”, lido antes do escritor ser colocado ao mesmo nível de Saramago com atribuição do prémio Nobel.
Não quero com isto dizer que sou um multiculturalista ou um relativista cultural no pior sentido dos termos. Gosto muito de viver rodeado de várias culturas, várias línguas, várias tradições, mas não tolero comportamentos que ponham em causa o mais perene dos valores: a liberdade.

A outra questão importante deste debate centra-se da decisão de ir ou ficar, emigrar ou não emigrar. Se pensarmos na emigração como uma fuga às responsabilidades, um abandono de uma casa que, apesar de tudo, nos protegeu enquanto crescemos, sem fazer um esforço, sem dar um contributo pessoal para a optimização global, então não posso discordar do António. Mas o meu problema é diferente. Não só convivo mal com os defeitos da sociedade portuguesa, como também não me revejo nas suas características que, só por arrogância, poderia apelidar de defeitos. Quisesse eu mudar essas características e estaria ao nível de um qualquer Mao ou Marx de pacotilha, coisa que eu nunca tentei ser. Que fazer então? Os portugueses têm estruturas familiares nas quais não me revejo (e nas quais fui educado, é verdade) e às quais já alguém lhes designou como “familismo amoral” (as casas estão limpas, a família é protegida de todos os males, mas as ruas estão sujas e, aos problemas de um estranho, a reacção mais provável é a indiferença). É algo que eu não consigo suportar. As ruas desertas nas noites de Natal deixam-me à beira de um ataque de nervos. Por isso, sempre que posso escapo-me para o outro lado da fronteira, onde os restaurantes estão cheios.
Não António, o meu problema não é com os defeitos da sociedade portuguesa, é com a própria sociedade. Não pretendo fugir à minha função de, como indivíduo, contribuir para bem colectivo. Pretendo apenas viver num local onde não me sinta deslocado, onde consiga sair à rua com prazer, onde me consiga identificar com o vizinho do lado. Talvez eu procure a minha nação.

Uma última ideia. Ser nacionalista não é ser fascista, nem é pretender esmagar as outras nações. É verdade. Mas existe uma linha muito ténue que divide o desejo de afirmação da ânsia de esmagar. Veja-se o caso da última guerra dos balcãs. Bastaram três políticos para transformarem três povos que antes conviviam, com as suas disputas, as suas “afirmações”, em três inimigos mortais que quase se exterminaram. Nesta questão sou muito popperiano: desconfio sempre do nacionalismo, por precaução; o nacionalismo individual, defensável e respeitável, pode transformar-se numa besta colectiva em determinadas circunstâncias.


Afixado por CMF em maio 7, 2004 02:22 AM
Mais uma coisa António. Se leu os meus textos anteriores (sobre a viagem) deve saber que eu não me esquivo a divulgar a cultura portuguesa no estrangeiro. Não é da herança cultural, nas artes, nas ciências, na literatura, que eu quero fugir. É apenas de uma certa maneira de estar na vida, com a qual não me identifico.

Afixado por CMF em maio 7, 2004 02:29 AM
Meu caro Viriato,
Referir, em relação ao Salazar, "a sua honestidade moral" é no mínimo duvidoso. É uma sua opinião, legítima como qualquer outra, mas apenas uma opinião: não se tente branquear o passado, tomando como factos objectivos coisas que nunca o foram.

"Também não há motivo para ter medo dos termos. Ser nacionalista, não é ser fascista, nem é pretender esmagar ou combater as outras nações, mas tão-só amar a sua Nação e querer afirmá-la, pelos seus valores de civilização e de cultura, no conjunto alargado das outras nações, não para as esmagar, mas para delas merecer o seu respeito e consideração." Ou seja, nós, portugueses, enaltecemos o Camões, o Gama, o Fado e o Figo, os espanhóis incham com orgulho do Cervantes, do Cortez, do Flamengo e do Morientes, os Ingleses por seu lado têm o Byron, o Cook, o Purcell e o Beckham... Com todo o respeito, este "Nacionalismo" conduz apenas, e inevitavelmente, a um diálogo de surdos. Porque, por um tal amor à nossa "Nação", quando um grego referisse Homero, lá teríamos um "ah, mas há também o Camões...". Não importaria que o Camões se tivesse inspirado profundamente em toda a estrutura formal da Odisseia para escrever os Lusíadas: nós somos a "Nação", os seus feitos são também os nossos feitos, e quando déssemos por isso estariamos a afirmar a "nação", o seu valor, em nome da "elevação desse corpo mais vasto a que sempre pertencemos". Nós portugueses berraríamos Camões, os espanhóis Cervantes, os checos gritariam Kafka, e daí não sairíamos, cada "Nação" convencida da sua superioridade cultural e civilizacional. Claro que não se pretenderia "esmagar ou combater as outras nações", mas a animosidade que certamente adviria de um tal diálogo de surdos seria um terreno propício para as hostilidades se iniciarem, como aconteceu nos Balcãs, a propósito do exemplo referido pelo Carlos. Como portugueses, estamos unidos, quer queiramos quer não, por uma cultura e língua comuns, que realmente fomentam um sentimento de pertença em todos nós. Mas, quando um alemão fala de Bach, Beethoven ou de Schoenberg, que não se tente contrapor Carlos Seixas ou Joly Braga Santos: isso seria profundamente ridículo. No entanto, acaba por ser isso o que o Nacionalismo advoga: a afirmação incondicional da "Nação".

Afixado por Xavier em maio 7, 2004 09:26 AM
Sem por em causa as ideias respeitáveis, mas que não comungo, dos nacionalistas, confesso que percebo muito bem o que CMF diz, sobretudo porque o sinto.
A ideia de Nação não me diz nada. Sinto-me mais português do que a maioria dos defensores dos conceitos de nação, soberania e identidade nacional. Como relevei no início, as teses aqui expostas nos comentários são respeitáveis, mas discordo delas.
Tenho inclusivé uma certa aversão moral, ética e estética ao conceito de Pátria e Nação tão caras à Direita política.
Passando à frente e deixando a política, centro-me no Sentimento e na Razão.
Dizia atrás, que me sinto tão ou mais português do que os designados "nacionalistas", por várias razões. Uma delas é porque conheço a História do meu país, tanto nos seus aspectos positivos como negativos (para a maioria dos povos europeus que não foram navegadores/exploradores a visão deles da nossa expansão marítima e "exportação" da civilização cristã estão muito mais próximas do genocídio e destruição de culturas autóctones do que feitos históricos gloriosos!).
Depois, porque sei falar e escrever bem a minha língua e, sem falsas modéstias(!), com um nível superior à maioria dos meus concidadãos.
Por fim, porque cultivo a solidariedade e pago impostos.
Como escrevi há dias, salvo erro também num comentário a um post de um blog, desde quando é que sermos exigentes e críticos com o nosso país é desprezá-lo? Na minha opinião é precisamente o contrário.
Para concluir (e um dia com mais calma poderei explanar melhor as minhas ideias) confesso que não sei o que é sentir amor ao país nesses termos cegos de um certo nacionalismo bacoco. Quando estou num país estrangeiro sinto-me como em casa. É pecado desejar viver onde nos sentimos bem? É anti-patriótico? Sinto-me muito melhor numa esplanada de Veneza do que algum dia me sentirei no "deserto" que é a Praça do Comércio; prefiro as estradas silenciosas e calmas das colinas padanas ou da Toscana às paisagens das nossas Beiras apesar de lá ter nascido e vivido quase 20 anos. O que não significa que não haja lugares em Portugal onde me sinta bem. Veja-se o caso de Marvão e Castelo de Vide, ou de Tomar.
De há dez anos a esta parte vou todos os anos a Itália (pois a minha mulher é italiana) e desde o primeiro dia que lá fui senti-me em casa! Como se já lá tivesse vivido. Porquê? Por não ser um verdadeiro português? Não, apenas por me considerar um cidadão do mundo, de sentir a Europa e a sua cultura como uma casa comum, apesar da xenofobia (que já senti na pele) e das assimetrias culturais e económicas.
Até um destes dias.

Afixado por FBR em maio 7, 2004 02:46 PM
Não posso deixar de participar nestes eloquentes comentários, pela sua riquza de testemunhos. Já tinha dito, que raramente faço comantários neste espaço por me parecer quase redundante, já que tenho meios mais directos de comunicação com CMF, mas quero "assinar por baixo" a síntese feita pelo Carlos Miguel, relativamente ao sentimento do qual também eu comungo, e que se traduz na total ausência de exaltação simbólica nacional. Não é que eu não goste de comer caracóis (nesta área sou verdadeiramente suspeita), o que se passa é que eu não acho que os caracóis algarvios (e só porque nasceram lá) são os melhores do mundo.
Há dias, uma amiga, que não me compreende neste capítulo da falta de amor à pátria, dizia-me que tinha encontrado uma magnífica tasca com imensas iguarias para o palato, rematando, quase em tom paternal: "Estás a ver?! Aqui também há coisas boas!!". É isto que eu abomino! Ninguém disse que não, mas a interpretação que, normalmente as pessoas fazem, é, paradigmatcamente, a da minha amiga. É, na verdade, uma reacção nacionalista.
Um outro exemplo, também muito claro, passou-se no dia em que uma colega me disse, com um profundo pesar: "Olha, já viste?! Esta bomba já não é da Galp!!"
Assim não. Sejamos melhores para o mundo!


Afixado por MJM em maio 7, 2004 05:02 PM
Já vivi algum tempo no estrangeiro. 9 meses em Itália e 1 mês em Paris. Na minha experiência lá fora, a nação existe. Pelo simples facto de ser português fui auxiliado por outros portugueses. Acaba por ser uma "família alargada" (tribo, talvez seja mais adequado) no centro.

PS - A atitude do Carlos é muito portuguesa (quer "fugir" (emigrar) para outro lado). Na realidade ele não quer sair do território, apenas "fugir" dos outros portugueses. Está no seu direito.

Afixado por Ivo em maio 8, 2004 11:29 PM
Há diferentes maneiras de estar na vida. Eu não quero ser ajudado por portugueses por ser português. Quero ser ajudado por portugueses por ser HUMANO. Quem olha para a nacionalidade na altura de auxiliar não me nerece nenhum respeito.

Afixado por CMF em maio 9, 2004 03:28 PM
Bem, se seguirmos a lógica de pensamento do Carlos, a maioria da humanidade "não merece nenhum respeito". Arriscaria-me a dizer que o Carlos tem um grande preconceito contra as nações.


Afixado por Ivo em maio 9, 2004 08:03 PM
Já aqui expliquei que a ideia de nação (ou meme, recorrendo ao pertinente termo criado por Richard Dawkins) nasceu, cresceu, evoluiu, adaptou-se, transformou-se e, quem sabe, poderá morrer, como tantas ideias e espécies desde o aparecimento de vida na terra. Em relação à "ideia de nação" não tenho preconceitos. Não faria sentido. Os preconceitos estão do lado de quem não aceitar discutir as ideias tendo em conta o seu carácter mutável.
E mantenho o que disse: quem baseia as suas acções na nacionalidade do próximo (e não esteja disposto a ponderar e mudar de atitude) não me merece consideração.

E agora Ivo, está na altura de definires o que “nação” significa para ti. Quase todos foram unânimes, neste comentários, ao considerar a língua portuguesa como uma das mais importantes componentes da herança cultural da nação. Concordas? Se assim for, deves começar a escrever “arriscar-me-ia” no lugar de “arriscaria-me”.
(Caros leitores, não vejam este último remoque como sinal de arrogância. O Ivo é meu amigo e na próxima sexta-feira terá a oportunidade de se vingar num campo de futebol).


Afixado por CMF em maio 9, 2004 09:16 PM
Retomo a palavra, se me permitem, para acrescentar que, só por teimosia, se poderá sustentar que a nacionalidade não é factor de aproximação entre as pessoas, sobretudo no estrangeiro, perante as dificuldades próprias da situação, em face do desconhecido ou do menos conhecido : língua, usos, costumes, religião, em suma, de aquilo que caracteriza uma cultura, algo que se encontra e se reconhece como diverso, ao passar para outra sociedade. Basta apenas atravessar aqui a nossa fronteira, para sentir que entrámos num outro meio, de outra gente, com uma diferente maneira de estar, sentir, pensar e reagir a estímulos exteriores, e, num sentido óbvio, muito mais nacionalista, exclusivista, que a nossa, marcada por uma maior abertura ao mundo, às diferentes culturas e civilizações. Não será por acaso que os portugueses mostram muito mais facilidade em aprender línguas estrangeiras que qualquer outro povo europeu.Basta ligar um rádio em Espanha ou ver cinema ou ler um jornal espanhol, para notar o cunho acentuadamente nacionalista que todas essas manifestações culturais têm entre eles. Será um mal ou um bem ? Trouxe-lhes mais ganhos ou mais prejuízos ? Avaliem com ponderação, antes de responderem de uma forma meramente subjectivista, tentem ver com objectividade, com a possível objectividade com que tais assuntos podem ser analisados. Que as pessoas se agrupem por afinidades, parece-me irrefutável, que, entre as mais fortes, estejam as ligadas à nacionalidade ou ao uso da língua mãe, igualmente se me afigura evidente. Significa isso que, com tal sentimento, venhamos a odiar ou a desprezar as restantes nacionalidades ? Só por qualquer desequilíbrio mental ou hormonal tal acontecerá. De onde virá então a resistência a coisas aparentemente tão óbvias ? De que fantasmas ou caprichos se alimentarão essas desconfianças ? Das guerras de antanho, das confrontações, das perseguições de fundo religioso ? Não me parece que hoje, no século da «mirífica globalização», da «ausência de fronteiras», da tão propalada e decantada «aldeia global», estejamos mais defendidos delas, do que no passado.

Afixado por António Viriato em maio 9, 2004 10:45 PM
António, permita-me discordar de alguns pormenores da sua última intervenção. É verdade que a nacionalidade é um factor de aproximação entre as pessoas perante situações em que devem lidar com o desconhecido. As pessoas são livres de se associarem com bem entenderem. Outras pessoas, como eu, não procuram o conforto do conhecido quando enfrentam o desconhecido (vejam o texto do "Zé Armindo", na Formiga de Langton, sobre esta questão). Quando viajo, procuro embrenhar-me profundamente no desconhecido e rejeito qualquer aproximação (apenas) baseada na língua comum e na cultura comum. Uma das melhores experiências da minha vida foi a semana passada em Seoul, sozinho, e rodeado por coreanos que, na maior parte dos casos, não conheciam um palavra de inglês. E num fim de tarde, espontaneamente, acabei reunido com um grupo de pessoas com afinidades. Não foi a língua nem a cultura que nos uniu; foi a curiosidade pelo desconhecido e o prazer do convívio.

Não concordo com a sua opinião sobre Espanha. Não me parece que seja uma cultura mais exclusivista e nacionalista. Mas neste assunto não podemos passar da mera opinião não fundamentada, porque não existe nenhuma forma credível de medir o nacionalismo de um povo.
Também não sei se os portugueses têm mais facilidade em aprender línguas portuguesas. Acho que esta ideia se está a transformar num dogma nacional. Existe alguma forma de medir a capacidade de um povo aprender línguas estrangeiras?

Também é verdade que, quando atravessamos a fronteira, sentimos que entramos “num outro meio, de outra gente, com uma diferente maneira de estar, sentir, pensar e reagir a estímulos exteriores”. Que culpa tenho eu se me sinto mais integrado, mais “em casa”, do outro lado da fronteira? Adoro Espanha, e digo-o, mesmo que seja politicamente incorrecto fazê-lo. Adoro Espanha e a sua cultura. Não sei se é impossível apreciar, simultaneamente, o modo espanhol e português de estar na vida. Mas é difícil, devido às grandes diferenças entre a cultura da sociedade. Posso levar, para fora de Portugal, os nomes dos escritores e músicos portugueses. Cresci com eles. Mas no comportamento, sou castelhano.


Afixado por CMF em maio 10, 2004 12:02 AM
Carlos, é bom para ti que na próxima sexta fiques na mesma equipa do que eu - é melhor para a tua saúde :-) Concordo contigo que o Português (língua com P grande) é um ponto importante para a nação. Concordo também que o conceito de nação é mutável. Agora não me parece que exista algo de negativo à partida no conceito de nação como pareces defender. Concordo também que nação Portuguesa (ou seja, os que se consideram Portugueses) poderia ser melhor (o P grande é de prepósito).

PS - Espero não ter feito nenhum erro importante de Português, excepto o P grande. :-)

Afixado por Ivo em maio 10, 2004 11:04 PM

sexta-feira, maio 07, 2004

Petição para salvar a Costa Vicentina 


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